segunda-feira, 7 de maio de 2012

E quando for crise de verdade?


Certa vez, referindo-se à banalização do uso de certas categorias políticas, Miguel Arraes anotou que “as palavras perderam seu sentido real”. É que uma simples discrepância entre aliados aparecia em manchetes como “ruptura iminente”; dificuldades banais de governo logo ganhavam a alcunha de “crise”.
Eu mesmo muitas vezes fui interpelado por repórteres desejos de saber sobre hipotética “crise” com o PT – alinhado de primeira linha do PCdoB – em razão do anúncio de pretensões eleitorais de ambos os partidos numa mesma cidade. O pressuposto aparente é de que divergências eventuais e abordagens diferenciadas de questões polêmicas seriam inaceitáveis entre partidos coligados.
Se fosse assim, onde estaria o espaço para o bom debate democrático? A que levaria o engessamento das ideias, aprisionadas na aliança celebrada? Agora mesmo se tem notícia de dificuldades no relacionamento entre a presidenta Dilma e sua base parlamentar, especialmente segmentos de inclinação mais conservadora. Nada mais comum, até porque não se pode colocar sinal de igualdade entre o Executivo e o Legislativo, isto valendo também para a lógica de quem administra e de quem dá sustentação no parlamento. Desencontros são naturais e absolutamente compreensíveis. 

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