terça-feira, 20 de março de 2012

O dilema de Mano Menezes no país do contragolpe



Neymar definiu o clássico brasileiro na Libertadores contra o Internacional em duas arrancadas espetaculares. No contra-ataque. No San-São do Paulistão, apareceu quando Casemiro perdeu uma bola boba e o craque santista recebeu livre em velocidade para limpar o goleiro e ir às redes.
Mas o destaque no Morumbi foi Lucas, que definiu quando o São Paulo tinha um a menos após a (esperada) expulsão de Rodrigo Caio por falta em Neymar. Acelerando diante de uma retaguarda lenta e desguarnecida, serviu Luis Fabiano no pênalti que o próprio camisa nove converteu e decidiu completando, em impedimento, jogada criada por ele mesmo a partir da intermediária.
Se Damião também é ótimo nas arrancadas entre os zagueiros, como no terceiro dos cinco gols que o Internacional marcou no The Strongest pelo torneio continental, e Ganso serve melhor seus companheiros quando estão em velocidade, a boa dica para Mano Menezes aproveitar melhor o seu quarteto “brasileiro” na seleção é jogar no contra-ataque.
O treinador que assumiu para ser o contraponto de Dunga- antecessor que até o Mundial tinha o time, incluindo clubes e seleções, com o contragolpe mais letal do planeta com Kaká, Robinho e Luís Fabiano – ainda não retomou o protagonismo do país cinco vezes campeão mundial. Com exceção dos 2 a 0 sobre os Estados Unidos na estreia e um ou outro lapso de tempo em amistosos, o Brasil não se impôs ocupando o campo de ataque e ficando com a bola.
Já na única vitória sobre uma grande seleção – os 2 a 0 sobre a Argentina pela Copa Roca apenas com jogadores que atuam nos países -, os gols de Neymar e Lucas saíram em roubadas de bola e saídas em alta velocidade. O segundo, do são-paulino, em arrancada desde a própria intermediária em um rebote de escanteio (reveja AQUI).
O jogador brasileiro costuma reclamar da falta de espaço, dos “nove atrás da linha da bola” e das “duas linhas de quatro” bloqueando o toque de bola. É difícil ter paciência, até porque a torcida costuma vaiar a troca de passes na defesa para abrir a retranca adversária. Na pressa, o passe sai errado e o contragolpe é do adversário.
Quando é brasileiro, une o talento à velocidade e costuma decidir. Mas todos querem a seleção ofensiva, envolvente e propondo o jogo, até porque o cenário do Mundial será de oponentes se arriscando pouco e usando o peso do favoritismo do anfitrião para surpreender. O que fazer, então?
Uma alternativa seria adiantar a marcação no início dos jogos em busca da bola roubada no campo adversário e do gol para aliviar a pressão. Depois, o recuo estratégico abdicando um pouco do ataque, mas controlando o jogo à espera do passe de Ganso acionando Lucas e Neymar pelos flancos e Damião, atacante único em um 4-2-3-1. Não é vistoso e inspirador, mas pode funcionar até melhor do que nos tempos de Dunga.
O contragolpe brasileiro pode ser letal com Ganso acionando Lucas e Neymar em diagonal e Damião na frente com muita velocidade.
Há várias formas de vencer. Se o plano é conquistar o hexa a qualquer custo em casa para apagar o “Maracanazo” de 1950, o Brasil de 1970 – campeão no vigor físico e na velocidade que potencializava o talento no México – é melhor referência que o Barcelona atual, time da posse de bola.
O país do contragolpe terá que abrir retrancas e precisa de soluções já na Olimpíada de Londres, o primeiro teste real de Mano. O técnico conta com seu jovem quarteto ofensivo para começar a resolver este dilema do futebol brasileiro e garantir sua sobrevivência até 2014.

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